quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Qual a verdade sobre o tempo?

Por João Teófilo

Por mais que o último dia de dezembro seja sempre igual ao primeiro de janeiro, fantasiamos uma nova vida a partir dessa data, projetando futuros, mas revendo os planos e balanceando o que fez parte da nossa vida nestes 365 dias. É como chegar ao final de um filme e recapitular o drama na tentativa de melhor compreender a história.

Para alguns, pode parecer estúpido; para outros, o momento de olhar a vida e conhecer-se melhor, olhar mais para dentro e descobrir um sentido vazio, escondido em algum lugar. São nos momentos sutis, como caminhar na praia ao fim da tarde, que paramos para ter pensamentos que não conseguimos ter na correria do dia-a-dia. Ao invés de preocupar-se com o trânsito, relatório de trabalho ou contas a pagar, contemplamos o amanhã e a beleza do sol, ouvimos uma música e respiramos com satisfação, e não estresse.

Por mais que seja simplesmente a mudança de um dia para outro, de um mês para outro, de um ano para outro, é o momento, singular momento, que vemos uma vida ficando para trás e outra surgindo. É o momento que questionamos se o tempo é ou não uma ilusão, se vale ou não a pena preocupar-se com ele. É o momento em que o futuro, que sempre nos parece remoto, fica mais próximo.

Então, vamos esperar que o sol já vem! Vamos viver um dia de cada vez e preocupar-nos com coisas que de fato importam, aprendendo a conhecer o que nos torna felizes. A vida é feita de sutilezas, e por ser sutil nem sempre a vemos como ela é. Se o momento é de renovação, de acreditar no novo, vamos não só acreditar, mas construí-lo, ao sabor do acaso, apesar dos pesares. De coração, um 2009 com alegria constante!

[Pato Fu - A Verdade Sobre o Tempo]

http://www.youtube.com/watch?v=GW2xPKP8h3g


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Já vai tarde

Por João Teófilo

Nenhum reinado dura para sempre, ainda bem. E aquele que foi eleito em 2001, após uma eleição com resultados duvidosos, e reeleito em 2004 com expressiva aprovação dos norte-americanos, está com os dias contados na Casa Branca. Depois de dois mandatos desastrosos, que reavivou a postura beligerante do governo dos EUA, George W. Bush deixa seu posto como um dos presidentes mais impopulares da história.

O pânico instaurado nos civis norte-americanos após os ataques de 11 de setembro garantiu a Bush confiança da população no combate ao terrorismo, o que foi decisivo para sua reeleição em 2004 quando todos temiam um inimigo que não existia, não do jeito que o Governo e a mídia veiculavam. Manipulação de informações, obliteração dos fatos e muito terror psicológico emudeceram toda uma nação, enquanto civis inocentes eram mortos pelo simples fato de morarem em países que abrigavam terroristas, pelo simples fato de serem mulçumanos e por estarem no lugar errado, na hora errada; enquanto soldados lutavam e morriam por um ideal que nunca existiu. “Entre para o exército e baixe músicas grátis!”

A mudança de conjuntura permeia o mundo desde que ele é o que é. Nos últimos anos, não só os Estados Unidos como também o restante do mundo passaram a conhecer a verdadeira faceta de Bush e seu Governo. Por trás das fictícias armas de destruição em massa, havia o interesse na exploração do petróleo iraquiano; enquanto cientistas divulgavam o caos que se instaurava na Terra, Bush rechaçava o Protocolo de Kyoto e fechava os olhos para os clamores da comunidade internacional. Por fim, deixa o governo entregando um país mergulhado numa profunda crise econômica, fruto da má administração daquele que pensou ser a polícia do mundo.

O resultado da última eleição, tendo Barack Obama como novo presidente, instaurou um clima de otimismo nos cidadãos do mundo inteiro. Tal mudança na direção dos ventos prova que por mais que Fox, Globo ou coisa que o valha criem suas próprias verdades na tentativa de criar um mundo uniforme, sem identidade cultural, há luzes vindo de direções diversas nos mostrando que o buraco é mais embaixo, que o novo é possível. Ao jornalista iraquiano que jogou seus sapatos em Bush, meu muito obrigado. Da próxima vez, atirem uma privada como “beijo de despedida, seu cachorro.”



quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ao amigo Rafael Chruscinski, e o verdadeiro sentido de justiça.


Por João Teófilo

Se partíssemos do pressuposto de que qualquer julgamento - seja o que praticamos rotineiramente, seja o oficial, nas instâncias tributárias - estão permeados por questões subjetivas, suscitaríamos uma importante reflexão: para cada caso há um julgamento de acordo com a ótica que se analisa.

Sentir com inteligência, pensar com emoção? Julgar algo quando a cólera toma conta dos nossos impulsos seria o mesmo que julgar quando nos encontramos calmos? Michel de Montaigne afirma que, “para agir bem, não deveríamos pôr a mão nos nossos serviçais enquanto nos perdurar a cólera. Enquanto o pulso nos bater e sentirmos emoção, adiemos o acerto”. É importante também lembrar: quando o sentimento de vingança precede qualquer vontade de ser fazer justiça, o que prevalecerá será a condenação a qualquer custo, algo que presenciamos vez por outra na imprensa, quando se alfineta alguma figura de destaque, notoriamente políticos, e mesmo nas instituições de representação civil, como no Legislativo, onde qualquer suposição de erro de algum político vira motivo de festa para os adversários, que fazem seus pré-julgamentos de forma irresponsável.

Você está no carro do seu amigo e ele está dirigindo, em meio ao conturbado trânsito paulista, quando ocorre uma colisão. Visivelmente o erro é do seu amigo. Você vai prestar depoimento sobre o ocorrido; a amizade o tornará benevolente? Jules Mazarin certa vez afirmou que ela confunde nossa clareza de idéias. Agora você não está mais ao lado do seu amigo; você é o motorista que está no outro carro e foi vítima desse suposto acidente. Na hora de prestar depoimento, as conclusões seriam as mesmas? Até que ponto conseguimos ser parciais na hora de julgar?

A vida é feita de julgamentos; eles estão presentes no dia-a-dia. Parece ser um ato instintivo, que vai desde acusar o vizinho por considerar algo que ele cometeu errado a julgar a comida de um restaurante por considera-lá ruim. São atitudes sutis, que não implicam necessariamente num julgamento onde a parte acusada tem direito à defesa. No júri, por sua vez, o buraco é mais embaixo. A vida ou a liberdade de alguém pode está em jogo, nas mãos de alguém que teoricamente detêm a razão e está apto para julgar. Condenar alguém por latrocínio, por exemplo, nem sempre é complicado. Contudo, há casos complexos, que requerem análises minuciosas. Casos que nos deixam num beco sem saída, nos levando ao seguinte questionamento: e se fosse eu? Talvez seja da natureza humana, mas é sempre mais fácil olhar os erros dos outros, encarar as coisas do lado de fora, como quem vê embevecido a novela das oito pelo vidro da TV.

É nesse emaranho de idéias que vão surgindo conforme vou desenvolvendo esse texto que a palavra “justiça” cada vez mais se afasta de um significado óbvio, claro e objetivo. O que é justo? É fazer aquilo que é certo de acordo com códigos sociais? Mas o que é fazer o certo? Desde quando o que é certo para mim é certo para outrem? No Brasil, por exemplo, roubar uma lata de manteiga dá cadeia por vários meses. Já roubar milhões do bolso dos brasileiros, não. É processo para lá, “eu sou inocente para cá”, em que tudo acaba em samba no país do carnaval. Qual crime é mais grave?

Se formos parar para pensar... Talvez quem pensa em demasia acaba se fechando mais e mais no círculo que nos cerca. Felizes aqueles que se contentam com o aparente e superficial e poupam o cérebro? Nada mais árduo do que assumir a responsabilidade de julgar ou defender, por exemplo, uma pessoa por um crime no qual você não estava presente. “Ouvi dizer”; “li o processo...”

A condição humana sobre a Terra desperta mais dúvidas do que nós mesmos, protagonistas desta farsa aparentemente criada por d“Eu”s, possamos imaginar. A complexidade é o cerne que configura toda a nossa natureza, um rio com inúmeros afluentes que atualmente corre numa velocidade cada vez maior. Julgar é uma faca de dois gumes quando analisamos a partir da perspectiva que mencionei acima. Mas de uma coisa acredito está certo: se julga de menos o que era para ser julgado de mais, enquanto aqueles que detêm o poder fazem com que acreditemos a qualquer custo que também detêm a verdade.


Rafael é um amigo preocupado com as questões que tornam nossa vida mais complexa e sugeriu que eu escrevesse sobre o assunto.

DIÁ – logos


Sou policial militar – Parte I

- Aê, neguim! Mão na cabeça. Encosta na parede.

- Eu não fiz nada!

- Cala a boca e faz o que eu tô mandando!

- Mas...

- Quer beijar a boca do trinta-e-oitão pra ver se é gostoso, filho-da-puta?

- Eu não sou bandido, não fiz nada!

- Vocês é tudo a mesma coisa!

Sou policial militar – Parte II


- Boa noite!

- Nossa reportagem mostra com exclusividade a apreensão de traficantes no Morro Sem Nome, zona Norte da cidade. Na troca de tiros com a polícia, três bandidos morreram.

- A gente vai ficando por aqui. Mais notícias logo mais a noite, ou a qualquer instante durante a nossa programação.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Yoñlu

Por João Teófilo





Um quarto, um computador e a genialidade de Vinícius Gageiro concederam ao mundo da música um apanhado precioso de canções que raramente algum artista consegue engendrar. O garoto de apenas de 16 anos, gaúcho de Porto Alegre, com uma capacidade artística precocemente revelada, era descrito como extraordinariamente inteligente e extremamente sensível. Porém, foi sua personalidade sensível que não suportou viver nesse mundo caótico, o que levou Vinícius, conhecido no mundo virtual como Yoñlu, a abreviar a própria vida no dia 26 de julho de 2006. Talvez Vinícius tenha nascido cedo demais.


Em vida, Vinícius transformou seu quarto em refúgio, sua arte. Foi nele que o garoto, com apenas seu computador e um software de gravação, usou teclado e violão, compôs e elaborou os arranjos de várias músicas que, postumamente, foram lançadas em fevereiro deste ano pelo selo Allegro. Difícil é analisar o disco sem levar em conta as circunstâncias especiais que o envolvem.


Difícil também de classificá-lo sonoramente, mas não resta dúvida a semelhança com o post-rock, uma mistura do rock progressivo com o rock alternativo, permeado por algo mais melódico, suave, experimental e carregado de música instrumental. Há melodias bem trabalhadas e construções sonoras que lembram Radiohead – umas das bandas favoritas de Vinícius – como na música “Goodbye (a story)”,
onde a semelhança sonora com “Fitter Happier”, do Radiohead, é nítida. Além de percebermos que seu primor musical era muito aguçado para um garoto de 16 anos, o disco nos permite enxergar um pouco como o mundo doía em Vinícius. As músicas “Suicide Song” e “Humiliation” - essa possui uma melodia em perfeita sintonia com a voz do garoto, que canta num inglês desenvolto - estampam o seu íntimo.


Antes mesmo de lançadas em CD, algumas músicas de Vinícius já eram disponibilizadas na Internet por um amigo virtual. “Waterfall”, uma balada instrumental levada por voz e violão, acrescida no final de sutis batidas eletrônicas, arrancou elogios de internautas de várias partes do mundo, onde muitos chegaram a duvidar que a origem das músicas fosse um garoto com a idade dele. Fã de Vitor Ramil, Vinícius regravou “Estrela Estrela”; os versos “como ser assim tão só e nunca sofrer?” mostra que essa música revela conexão com sua personalidade, e quem desconhece seu verdadeiro autor chega a crer que é mais uma composição de Yoñlu. Vinícius também regravou a música “Regra 3”, de autoria de Vinícius de Morais e Toquinho, também levada por voz e violão.


A música “Mecânica Celeste Aplicada”, a princípio batizada de “Luana”, nome da musa inspiradora, é uma das melhores do disco. Sutil e de melodia suave, Vinícius consegue expressar seu sentimento quando canta. Com uma letra que deixaria qualquer trovador com inveja, poucos conseguiram expressar tão bem quanto ele o que significa sofrer por amor. Outra música, “Untitled”, também foi dedicada à Luana.


O que era para ser um princípio musical transformou-se em legado. Tão precoce quanto Ian Curtis, o disco prova que Vinícius Gageiro possuía potencial para fazer muito mais e melhor. O amigo Alexandre Giacobbo, que compôs com Vinícius “Olhe Por Nós” e “It’s Not Another King Kong”, declara: “ele conseguiu englobar os mais variados sentimentos com uma perspicácia única”; o jovem Marcelo Menegali, que soube do suicídio de Vinícius pouco tempo depois, e por meio de um amigo virtual dele teve acesso às músicas antes de serem lançadas em CD, define: “a música dele une a técnica com o sentimento (...) são recheadas de sentimento, mas não são simplistas, como se esperaria de algum adolescente comum”.


O menino prodígio de Gay Harbour, como ele chamava Porto Alegre, hoje é uma fotografia pregada na parede. Sua música é vida, e nela está contida a essência daquele que preferiu calar-se. A vida é frágil, escorre pelos dedos, e, como diria o filósofo alemão Nietzsche, “a recompensa final dos mortos: não morrer nunca mais”.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Imprensa carniceira

Por João Teófilo

Alguém já ligou a televisão alguma vez neste último mês sem que estivesse passando algo a respeito da morte de Isabella Nardoni? Talvez sim, mas deve ter sido de madrugada, naquela hora dos filmes antigos e dos programas com moças vestidas sensualmente vendendo produtos eróticos. Depois do Big Brother Brasil, o caso Isabella e a dengue no Rio de Janeiro disputam à tapa seus lugares nos meios de comunicação. A violência no Brasil já se encontra ressentida com o esquecimento.

O que era pra ser só mais um caso de polícia virou invasão de privacidade com direito a link ao vivo direto do prédio onde se encontram o pai e a madrasta de Isabella; é um verdadeiro reality show onde a vida pessoal da família ganha mais destaque do que a investigação do caso. Telejornal de manhã com a jornalista na porta do prédio informa, ao vivo: o casal Nardoni tomou café-da-manhã; o casal Nardoni recebeu os advogados; o avô de Isabella isso ou aquilo... Ah, isso pro raio que o parta! Como se não bastasse, durante toda a programação jornalística das grandes emissoras brasileiras se repetem as mesmas notícias; o que foi veiculado pela manhã é também veiculado à tarde e à noite, pouca coisa muda.

Não digam que estou sendo insensível com tamanha crueldade, longe de mim isso, mas crianças morrem no mundo inteiro em condições semelhantes ou piores que Isabella. A imprensa precisa ceder espaço às crianças vítimas de abuso sexual, vítimas de exploração do trabalho infantil, vítimas da fome, das guerras insanas que ocorrem nos quatros cantos do planeta... São fatos que ocorrem em proporções maiores do que muitos possam imaginar, maiores do que a grande mídia veicula. Será preciso que estas crianças sejam jogadas do sexto andar para que a imprensa abra os olhos e chame a atenção da opinião pública? Que tipo de desgraça dá mais audiência?

Aqui no Ceará, dois irmãos acadêmicos de medicina, filhos de um respeitado médico do interior, foram mortos injustamente por um sargento da polícia. O caso estampou os principais jornais do Estado e do país, chegando o governador Cid Gomes ir até a cidade das vítimas afirmar que a justiça seria feita. Mas quantos inocentes são mortos pela nossa polícia corrupta e preconceituosa que age de forma truculenta e fica impune? Basta subir os morros do Rio ou ir a outras favelas para constatar quantos morrem pelo simples fato de serem “negros”, “mal vestidos”, “marginais”... É a verdadeira criminalização da pobreza que a imprensa faz pouco caso; pior: compactua com isso. Como se tratava dos filhos de um rico médico, o governador estava lá, a imprensa estava lá.
Sem o menor respeito, imagens da casa dos familiares de Isabella são mostradas, o sofrimento dos familiares é mostrado e o dia-a-dia desses também. Fica evidente que o que dá mais audiência é ver o circo pegar fogo e o palhaço se queimar. Os repórteres estão lá, de plantão, à espera, sedentos por novidades, brigando pela exclusividade. Quanto mais o caso se arrastar, mais audiência, mais lucros. Que a justiça seja feita e que as demais crianças vítimas da violência de qualquer natureza, seja essa criança rica ou pobre, “preta” ou “branca”, ganhem seu espaço nos meios de comunicação.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Vai um pedaço de bife aí?

Por João Teófilo
Tantas opções que existem para o entretenimento e mesmo a prática saudável de esportes, há quem apele para a selvageria e bestialidade, onde, nutrindo instintos nefastos, ficam felizes e aplaudem animais sendo submetidos à torturas e maus tratos, vítimas de uma prática sanguinária que gera lucros exorbitantes para certos segmentos sociais, que insistem em chamar as atrocidades cometidas em rodeios de esporte, cultura e diversão.

Deve-se lembrar também que estupidez dessa natureza está presente também em circos, rinhas e noutros ambientes que têm como finalidade “entreter” o espectador com espetáculos onde o protagonista, animais, brigam entre si, atravessam um círculo em chamas ou, na maioria dos casos, vai parar no seu prato, não sem antes agonizar sendo espancado até a morte, com direito a toda frieza e indiferença de quem executa desumano ato.


A discussão acerca da ilegalidade dos rodeios estampa animosidade ferrenha, onde, de um lado, empresários do ramo defendem que tal prática não é cruel, é um esporte e mesmo uma cultura do povo brasileiro, e do outro, há quem denuncie a violência por qual passam os animais, muitos deles chegando a morrer durante o espetáculo, tamanha é a crueldade. Interessante notar que quando se espanca uma pessoa, discute-se muito, sobretudo no judiciário,questões voltadas aos direitos humanos e formas de punir e inibir atos de agressões físicas ou homicídios. Mas por que, quando se trata de maus tratos a animais, a discussão assume outro viés, como se isso fosse uma prática natural e os pobres animais fossem indiferentes a ela? Isso só revela tamanha fragilidade e subserviência da nossa Justiça quando está diante de grandes empresários, dispostos a tudo para manter sua fábrica de dinheiro funcionando a todo vapor. E digo mais: tal prática não é cultura de raiz, uma vez vinda dos Estados Unidos. Mesmo assim, se a questão é cultural, deveríamos louvar e incitar o canibalismo que noutros tempos eram praticados nestas terras dos trópicos.

E mesmo que seja forte o argumento de que a atividade é geradora de empregos, não podemos permitir esta “tortura institucionalizada de animais” com base na supremacia do poder econômico. Fosse assim, deveríamos permitir, à guisa de exemplo, que soldados nazistas executassem tranqüilamente a carnificina semita, pois ela gerou empregos, ou o tráfico de armas que tanto contribui para a violência desenfreada deste país.

Os artistas bem que já poderiam começar se recusando a participarem de eventos desta natureza, que tanto mescla maus tratos e atitudes de “coragem” dos cowboys com a música sertaneja. Participar de rodeios, seja fazendo shows ou como espectador, me leva a crer que está pactuando com tudo isso. Com o perdão da palavra, é um puta paradoxo ver aquela dupla sertaneja pedindo ajuda no Criança Esperança e depois fazer seu showzinho nos festivais de Barretos da vida.




Sem mais o que dizer, só manifesto meu profundo lamento por um ato tão bárbaro, desumano e covarde, que, para a tristeza dos homens de bem, arrebatam espectadores nos quatro cantos do mundo, gerando lucros e tornando cada vez mais sedento quem defende com unhas e dentes um festival que deixa bem visto a tamanha degradação da dignidade do homem.