domingo, 3 de fevereiro de 2008

Vai um pedaço de bife aí?

Por João Teófilo
Tantas opções que existem para o entretenimento e mesmo a prática saudável de esportes, há quem apele para a selvageria e bestialidade, onde, nutrindo instintos nefastos, ficam felizes e aplaudem animais sendo submetidos à torturas e maus tratos, vítimas de uma prática sanguinária que gera lucros exorbitantes para certos segmentos sociais, que insistem em chamar as atrocidades cometidas em rodeios de esporte, cultura e diversão.

Deve-se lembrar também que estupidez dessa natureza está presente também em circos, rinhas e noutros ambientes que têm como finalidade “entreter” o espectador com espetáculos onde o protagonista, animais, brigam entre si, atravessam um círculo em chamas ou, na maioria dos casos, vai parar no seu prato, não sem antes agonizar sendo espancado até a morte, com direito a toda frieza e indiferença de quem executa desumano ato.


A discussão acerca da ilegalidade dos rodeios estampa animosidade ferrenha, onde, de um lado, empresários do ramo defendem que tal prática não é cruel, é um esporte e mesmo uma cultura do povo brasileiro, e do outro, há quem denuncie a violência por qual passam os animais, muitos deles chegando a morrer durante o espetáculo, tamanha é a crueldade. Interessante notar que quando se espanca uma pessoa, discute-se muito, sobretudo no judiciário,questões voltadas aos direitos humanos e formas de punir e inibir atos de agressões físicas ou homicídios. Mas por que, quando se trata de maus tratos a animais, a discussão assume outro viés, como se isso fosse uma prática natural e os pobres animais fossem indiferentes a ela? Isso só revela tamanha fragilidade e subserviência da nossa Justiça quando está diante de grandes empresários, dispostos a tudo para manter sua fábrica de dinheiro funcionando a todo vapor. E digo mais: tal prática não é cultura de raiz, uma vez vinda dos Estados Unidos. Mesmo assim, se a questão é cultural, deveríamos louvar e incitar o canibalismo que noutros tempos eram praticados nestas terras dos trópicos.

E mesmo que seja forte o argumento de que a atividade é geradora de empregos, não podemos permitir esta “tortura institucionalizada de animais” com base na supremacia do poder econômico. Fosse assim, deveríamos permitir, à guisa de exemplo, que soldados nazistas executassem tranqüilamente a carnificina semita, pois ela gerou empregos, ou o tráfico de armas que tanto contribui para a violência desenfreada deste país.

Os artistas bem que já poderiam começar se recusando a participarem de eventos desta natureza, que tanto mescla maus tratos e atitudes de “coragem” dos cowboys com a música sertaneja. Participar de rodeios, seja fazendo shows ou como espectador, me leva a crer que está pactuando com tudo isso. Com o perdão da palavra, é um puta paradoxo ver aquela dupla sertaneja pedindo ajuda no Criança Esperança e depois fazer seu showzinho nos festivais de Barretos da vida.




Sem mais o que dizer, só manifesto meu profundo lamento por um ato tão bárbaro, desumano e covarde, que, para a tristeza dos homens de bem, arrebatam espectadores nos quatro cantos do mundo, gerando lucros e tornando cada vez mais sedento quem defende com unhas e dentes um festival que deixa bem visto a tamanha degradação da dignidade do homem.