quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ao amigo Rafael Chruscinski, e o verdadeiro sentido de justiça.


Por João Teófilo

Se partíssemos do pressuposto de que qualquer julgamento - seja o que praticamos rotineiramente, seja o oficial, nas instâncias tributárias - estão permeados por questões subjetivas, suscitaríamos uma importante reflexão: para cada caso há um julgamento de acordo com a ótica que se analisa.

Sentir com inteligência, pensar com emoção? Julgar algo quando a cólera toma conta dos nossos impulsos seria o mesmo que julgar quando nos encontramos calmos? Michel de Montaigne afirma que, “para agir bem, não deveríamos pôr a mão nos nossos serviçais enquanto nos perdurar a cólera. Enquanto o pulso nos bater e sentirmos emoção, adiemos o acerto”. É importante também lembrar: quando o sentimento de vingança precede qualquer vontade de ser fazer justiça, o que prevalecerá será a condenação a qualquer custo, algo que presenciamos vez por outra na imprensa, quando se alfineta alguma figura de destaque, notoriamente políticos, e mesmo nas instituições de representação civil, como no Legislativo, onde qualquer suposição de erro de algum político vira motivo de festa para os adversários, que fazem seus pré-julgamentos de forma irresponsável.

Você está no carro do seu amigo e ele está dirigindo, em meio ao conturbado trânsito paulista, quando ocorre uma colisão. Visivelmente o erro é do seu amigo. Você vai prestar depoimento sobre o ocorrido; a amizade o tornará benevolente? Jules Mazarin certa vez afirmou que ela confunde nossa clareza de idéias. Agora você não está mais ao lado do seu amigo; você é o motorista que está no outro carro e foi vítima desse suposto acidente. Na hora de prestar depoimento, as conclusões seriam as mesmas? Até que ponto conseguimos ser parciais na hora de julgar?

A vida é feita de julgamentos; eles estão presentes no dia-a-dia. Parece ser um ato instintivo, que vai desde acusar o vizinho por considerar algo que ele cometeu errado a julgar a comida de um restaurante por considera-lá ruim. São atitudes sutis, que não implicam necessariamente num julgamento onde a parte acusada tem direito à defesa. No júri, por sua vez, o buraco é mais embaixo. A vida ou a liberdade de alguém pode está em jogo, nas mãos de alguém que teoricamente detêm a razão e está apto para julgar. Condenar alguém por latrocínio, por exemplo, nem sempre é complicado. Contudo, há casos complexos, que requerem análises minuciosas. Casos que nos deixam num beco sem saída, nos levando ao seguinte questionamento: e se fosse eu? Talvez seja da natureza humana, mas é sempre mais fácil olhar os erros dos outros, encarar as coisas do lado de fora, como quem vê embevecido a novela das oito pelo vidro da TV.

É nesse emaranho de idéias que vão surgindo conforme vou desenvolvendo esse texto que a palavra “justiça” cada vez mais se afasta de um significado óbvio, claro e objetivo. O que é justo? É fazer aquilo que é certo de acordo com códigos sociais? Mas o que é fazer o certo? Desde quando o que é certo para mim é certo para outrem? No Brasil, por exemplo, roubar uma lata de manteiga dá cadeia por vários meses. Já roubar milhões do bolso dos brasileiros, não. É processo para lá, “eu sou inocente para cá”, em que tudo acaba em samba no país do carnaval. Qual crime é mais grave?

Se formos parar para pensar... Talvez quem pensa em demasia acaba se fechando mais e mais no círculo que nos cerca. Felizes aqueles que se contentam com o aparente e superficial e poupam o cérebro? Nada mais árduo do que assumir a responsabilidade de julgar ou defender, por exemplo, uma pessoa por um crime no qual você não estava presente. “Ouvi dizer”; “li o processo...”

A condição humana sobre a Terra desperta mais dúvidas do que nós mesmos, protagonistas desta farsa aparentemente criada por d“Eu”s, possamos imaginar. A complexidade é o cerne que configura toda a nossa natureza, um rio com inúmeros afluentes que atualmente corre numa velocidade cada vez maior. Julgar é uma faca de dois gumes quando analisamos a partir da perspectiva que mencionei acima. Mas de uma coisa acredito está certo: se julga de menos o que era para ser julgado de mais, enquanto aqueles que detêm o poder fazem com que acreditemos a qualquer custo que também detêm a verdade.


Rafael é um amigo preocupado com as questões que tornam nossa vida mais complexa e sugeriu que eu escrevesse sobre o assunto.

DIÁ – logos


Sou policial militar – Parte I

- Aê, neguim! Mão na cabeça. Encosta na parede.

- Eu não fiz nada!

- Cala a boca e faz o que eu tô mandando!

- Mas...

- Quer beijar a boca do trinta-e-oitão pra ver se é gostoso, filho-da-puta?

- Eu não sou bandido, não fiz nada!

- Vocês é tudo a mesma coisa!

Sou policial militar – Parte II


- Boa noite!

- Nossa reportagem mostra com exclusividade a apreensão de traficantes no Morro Sem Nome, zona Norte da cidade. Na troca de tiros com a polícia, três bandidos morreram.

- A gente vai ficando por aqui. Mais notícias logo mais a noite, ou a qualquer instante durante a nossa programação.