domingo, 4 de novembro de 2007

Quatro Anos sem Rachel

Por João Teófilo

Era quatro de novembro de 2003 e eu checava minha caixa de e-mails pela manhã quando, abrindo a página principal, me deparo com a seguinte notícia: “Faleceu hoje, no Rio de Janeiro, a escritora Rachel de Queiroz”. Confesso que a princípio meu cérebro não processou corretamente a informação, passando um turbilhão de coisas pela minha mente até que eu me desse conta do que realmente havia acontecido. Hoje, fazendo um retrospecto, reconheço que, mais do que lamentar a perda, é momento para lembrar sua importância como umas das maiores escritoras brasileiras, quebrando um tabu quase secular como a primeira mulher a desafiar o machismo na literatura do nosso país, se tornado a primeira imortal de saias da Academia Brasileira de Letras.

Extemporânea por excelência, Rachel, junto com o “O Quinze” (1930), inaugura uma nova fase em nossa literatura, dando continuidade ao que José Américo de Almeida havia feito dois anos antes ao lançar “A Bagaceira” (1928). Com isso ela não só surpreendeu os coronéis da nossa literatura por se tratar de uma mulher, mas também por ter apenas dezenove anos! Houve até quem duvidasse que o livro não era de sua autoria, idéia que ficou sem sentido quando “João Miguel” foi lançado no ano seguinte. Muitos outros vieram no decorrer do tempo, consolidando de vez a carreira de Rachel como escritora e também como cronista, atuando por muito tempo nos melhores jornais brasileiros. No campo da política Rachel atuou dos dois lados, vindo a ser militante comunista e até mesmo candidata à deputada, como também, anos mais tarde, apoiou o golpe militar de 64 que teve como primeiro presidente um amigo íntimo seu, Castelo Branco. Contudo, depois de percorrer vários matizes ideológicos da política, ela se considerava uma simples anarquista.
Dona de uma escrita simples que fluía juntamente com as emoções sentidas por suas personagens, Rachel por muitas vezes adentrou nesse mundo da ficção, deixando que a mulher existente nela perpassasse a caneta e viesse até suas personagens na forma de Conceição, Dôra ou mesmo Maria Moura. São obras que tratam da angústia humana e mesmo da felicidade, contextualizadas em ambientes variados: ora no solo gretado pela seca em “O Quinze”, ora na vida pacata da Ilha do Governador na década de 50, em “O Galo de Ouro”. Romances que estampam com fidelidade o espírito brasileiro, inserido em cada palavra jogada nas folhas brancas.

Cearense e carioca, por quase um século Rachel se dedicou ao ofício da escrita, mesmo afirmando constantemente ter preguiça de escrever, o que por muitas vezes me levou a acreditar que ela dizia isso da boca para fora, pois se uma pessoa escreve um romance da magnitude de “Memorial de Maria Moura” com preguiça, imagine o que ela faria com muita vontade de escrever? Os homens passam, mas os livros ficam, e os de Rachel estão aí, provando que seu destaque na literatura não foi em vão e que ela merece ser sempre lembrada.

4 comentários:

tábata disse...

, não sabia que Rachel tinha apoiado a ditadura. na verdade, foi um choque para mim que nunca havia visto muitos artistas, senão nenhum, a apoiar este sistema.
bem, vanguarda a moça.
, a verdade é que até agora ainda não li nada de Rachel. nem para pensar nela. ótimo: uma possibilidade a mais. assim que encontrar tempo alguma obra rachel vai para lista de livros a serem lidos.

tábata disse...

sim, e que cheguei ao teu blog pela comunidade "Jornalistas Blogueiros" coloquei pra participar da comunidade mas ainda o mediador nao aceitou.
abs colega.

Ameríndio disse...

Bom texto João...
Fiquei interessado nas obras, e vo gastar uma boa grana na livraria antes das férias, converso contigo e acho um bom livro.

Confesso que li "Rafael" no lugar de "Rachel"... deve ser a segunda-feira mal-amada.

Abraço

nocearanaotemdissonao@gmail.com disse...

rachel, quantas saudades...amigo, passei para visitar seu blog e me deparo com uma bela postagem dessa. sou fã da rachel de queirós, temos algo em comum, somos cearenses hehehheheh tenho todos livros dela, sou suspeito em indicar um para a tabata, mas ela pode começar pelo livro de receitas [não me deixes] dela que mostra como ela tinha carinho pelos netos e como era preparados os pratos na fazenda dela em Quixadá-Ce. Uma dica, mas ela foi uma mulher alem do seu tempo. uma vitoriosa.
visite o meu blog www.souchocolateenaodesisto.blogspot.com