quarta-feira, 11 de março de 2009

Solavancos no Mundo



As mudanças de conjuntura permeiam a história da humanidade há séculos, mudando os rumos da vida numa quebra e início de ciclos, assim como a cobra que engole o próprio rabo. Acredito que hoje assistimos definitivamente o início do século XXI há tempos falado, que só agora resolveu mostrar suas virtudes e pecados, envolto em mistérios que intrigam mais e mais os pobres mortais.

O obscurantismo inquisitorial que assola o mundo desde os tempos mais remotos perde espaço para a veiculação, nas mais diferentes mídias, de culturas diversas, rechaçando a autonomia das igrejas cristãs, sobretudo a Católica, e mostrando que a diferença é o que temos em comum. Questões envoltas em tabus seculares como homossexualismo, sexo, divórcio, aborto e livre-arbítrio ganham espaço e viram cerne de discussões rotineiramente, rumando para uma naturalização que cada vez mais entra em atrito com os ensinamentos da santa madre igreja. Quem imaginaria ir às ruas e defender a união entre pessoas do mesmo sexo quando o Santo Oficio tinha sua fogueira acesa, sedenta por carne humana?

Mas, lamentavelmente, ao lado das mudanças que sinalizam uma melhora para a humanidade, este século XXI nos revela fatos incontestáveis e desagradáveis. O colapso ambiental do qual todos tanto já falavam timidamente é comprovado através de estudos e a comunidade científica alerta para a possibilidade da destruição de 15 dos 24 ecossistemas do mundo, causando o surgimento de novas doenças, escassez de água, pesca e aparição de zonas mortas no litoral, caso medidas enérgicas não sejam tomadas para reverter este futuro apocalíptico que está mais próximo do que imaginamos. Muito se alardeia sobre o problema, porém nada é feito. A única crise que realmente preocupa as autoridades do mundo inteiro é a financeira, e não a ecológica.

E a crise financeira! Bastou a locomotiva do comércio internacional mostrar sinais de fraqueza e saturação para todo o restante da economia mundial apresentar sinais de fragilidade e insegurança. É o efeito dominó que está deixando as autoridades internacionais de cabelos em pé. O sistema vigente provou não conseguir acompanhar de perto as mudanças de conjuntura e agora agoniza na tentativa de sair do vermelho e se reinventar. Atitude típica de quem não se preocupa com o amanhã sempre pensando que ele acaba depois de amanhã. Milhões de trabalhadores perdem o emprego no mundo inteiro enquanto a caça ao new deal do século XXI segue desenfreada.

Contudo, uma das mudanças mais marcantes que figura atualmente como protagonista diante de todos esses fatos está a eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos da América. Isso não representa nenhuma revolução na política estadunidense, uma vez que Obama não está disposto a alterar substancialmente o rumo das coisas. Embora o fechamento da prisão de Guantánamo carregue um significado positivo, ele se elegeu apoiando a pena de morte, o direito constitucional de defesa dos proprietários de armas de fogo e não sinalizou mudanças na política externa norte-americana. É inegável que essa eleição tenha sido um dos acontecimentos de maior simbolismo nos últimos tempos no campo da política. Um negro foi eleito presidente na terra da Ku-Klux-Klan! Um país assumidamente racista que, ao que tudo indica, está mudando seus conceitos e pré-conceitos. Como afirmou o deputado federal José Genoíno, “(...) a eleição de Barack Obama já é um fato extraordinário não por aquilo que pode mudar, mas pelo que ‘já mudou’”.

Por aqui, nossa América Latina está num processo de afirmação de sua soberania em que a independência do continente tende a crescer. Há um processo de construção democrática e novos atores, sejam eles indígenas ou populares, desenvolvem seus modelos próprios de representação e democracia direta. Mas ainda não há muito o e que se comemorar. Na maioria dos casos, mudam os atores, porém o enredo continua o mesmo, com o toma-lá-da-cá persistindo sempre.

Analisar com precisão e destreza tais mudanças a ponto de afirmar que essas persistirão ou tratam-se apenas de uma crise, nuvem passageira, é ofício do tempo. As mudanças ocorrem com a circunstância atenuante de sua fugacidade, mostrando-se efêmeras ou não. Ver o novo, ater-se ao óbvio e arriscar um veredicto é demasiado complexo. Por ora, contento-me em dizer-lhes que deram uns solavancos no mundo e não sabemos ao certo o que tomou novos rumos.


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